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DOUTOR CARLIN, UM HOMEM QUE ELOGIAVA

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Por Elza Galdino, Membro Efetivo do IASC, Advogada e Palestrante.

 

Sidney Guido Carlin nos deixou no dia 3, um domingo, vitimado pela Covid-19. Advogado trabalhista de profícua (e aqui o termo deve ser entendido na sua acepção mais ampla) carreira, atuou em mais de 50 mil processos até decidir se aposentar e deixar para os descendentes a responsabilidade sobre o bem sucedido escritório.

Teve papel importante também como articulador político e líder da advocacia catarinense, sendo Conselheiro na OAB/SC e destaque em associações de colegas da área.

Como Presidente, injetou vida ao IASC, recuperando a grandeza do Instituto, esta agremiação de advogados mais antiga de Santa Catarina, iniciativa da qual nasceram o TJSC e a própria OAB. Com atuação impecável, tornou-se inspiração para os jovens ingressantes e norte para seus contemporâneos.

Contornando suas inegáveis qualidades, dizia que era apenas “o mais belo” nos colegiados que integrava e para os quais contribuía com ideias, entusiasmo e ação.

Marcava presença em todos os nossos eventos, sempre acompanhado da esposa, Izete Galotti Carlin, elegante no vestir e no trato com todos.

Reconhecia e decantava as qualidades da família, mas seu maior orgulho era mesmo a neta Duda, pois “linda como o avô”.

Foi, certamente, uma instituição na advocacia barriga-verde. Entretanto quero falar sobre meu amigo Dr. Carlin, que com o tempo passei a tratar com menor cerimônia, omitindo o “doutor” que lhe era parte natural do nome, por mérito.

Meu amigo Carlin era, em suma, um homem que elogiava. E elogiava generosamente, sem reservas, sem medir status, conta bancária, origens.

Sidney – como sua doce Izete o chama – atravessava ruas para cumprimentar amigos, instigava-os a contar suas histórias, que pontuava com as próprias, sempre com impecável memória.

Quem, hoje em dia, dá seu tempo com tanta generosidade, sendo ele mesmo um personagem que enriquece o cenário da cidade? Carlin o fazia, com irretocável elegância.

Pergunte às vendedoras nas lojas mais qualificadas de Florianópolis, Curitiba e São Paulo, onde acompanhava carinhosamente a mulher, o quão gentil ele sempre foi com todas elas, perguntando-lhes sobre a família, torcendo pelo sucesso delas e dos filhos, marcando uma visita em que a compra se tornava o fato menos importante, ante sua afabilidade sincera.

Mesmo quando algo o descontentava – a política, o tempo, a Bolsa ­– tecia seus comentários com bom humor e fina ironia, permeando-os com um otimismo que vinha de alguém que venceu todo tipo de dificuldade com inteligência e destemor.

Nos seus olhos escuros sempre pude ler um amor intenso pela vida, e ele o exercitava nas viagens, das quais trazia memórias de encontros nos quais fazia novos amigos, mais do que bens materiais.

Gostava de andar por Buenos Aires, Izete ao lado, usufruindo dos ares portenhos, da boa comida, do comércio sofisticado e da boa hotelaria. Dos vinhos não tinha o que contar, porque confessava jamais ter aprendido a beber.

Morando na Beiramar, fez da região seu reduto: era adorado nas joalherias e boas lojas de moda do shopping, no café em que as atendentes sabiam as preferências dele e de Izete. Onde quer que se instalasse para lá acorriam os amigos, certos de que haveria um bate-papo interessante, pontuado por sua argúcia, sua alegria e seu respeito pelo semelhante.

Carlin gostava de gente, e cultivava amizades antigas enquanto semeava novas, certo de que havia lugar para todas no seu grande universo afetivo.

Carlin era um ser humano que brilhava no seu quadrilátero e fora dele, e assim permanecerá na minha memória e, creio eu, também no coração da legião de amigos que conquistou e cultivou, entre os quais tenho a honra de figurar.

Partiu e deixou um espaço impreenchível, insubstituível que era em sua genial singularidade.

Teremos por consolo a saudade, que é sentimento que nos acomete quando nascido das boas lembranças plantadas em nossa alma.

Choramos, mas também celebramos a vida que construiu com lhaneza e denodo, um exemplo para todos nós.

 

O presente texto foi publicado, resumidamente, no jornal Notícias do Dia de 8.1.2021, p. 12.

(http://www.eflip.com.br/flip/loginEdicaoAssina.do#page/12)

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