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Violência doméstica e os sinais de perigo.

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Por Dra Tammy Fortunato – Presidente da Comissão de Combate às Violências Contra a Mulher do IASC.

 

Catarina vivia um conto de fadas com Tício, rapaz de boa família, com excelente situação financeira, bom emprego, querido pelos amigos e familiares, e que, assim, como num típico conto de fadas a tratava como uma princesa.

Tício, falava para Catarina as mais lindas palavras, cobria-a de carinho, presentes e declamava aos quatro cantos como a amava. Catarina, era vista pela sociedade como uma mulher de sorte!

Com o desenrolar do relacionamento, Tício queria Catarina sempre ao lado dele, fazendo de modo sutil que ela o priorizasse, afastando-a dos familiares e amigos.

O afastamento foi algo realmente tão sutil, que Catarina não percebeu. Os amigos e familiares foram postergados a um segundo plano, e, Tício, seguia a tratando como uma princesa, mas não de modo positivo, já que a deixava sozinha na torre do castelo, longe de todos que um dia pudessem adverti-la do mal que estava por vir.

Aos que viam de fora, Catarina era realmente uma mulher de muita sorte. Vivia em um lindo castelo (mesmo que isolada), rodeada de luxos, e ainda, com um homem que a amava!

Catarina, já estava sendo vítima de violência doméstica, mas era incapaz de perceber. Amigos e familiares não percebiam o afastamento dela, achavam que o jovem casal queria mesmo ficar sozinho. E esse era o momento de Catarina ter sido resgatada da torre do castelo.

Após o isolamento de Catarina, quando esta já não tinha mais amigos e familiares por perto, houve uma nova mudança no relacionamento de ambos. Tício, ainda de modo sutil, fazia com que a auto estima de Catarina ficasse cada vez menor, xingando-a e humilhando-a, mostrando a ela que sem ele, ela nada seria.

Catarina, já estava isolada e psicologicamente abalada. Tício, sob a alegação do amor, passou de príncipe encantado para um autor de violência doméstica.

Certa vez, Catarina, já cansada das pressões psicológicas de Tício, resolveu confrontá-lo, e foi neste momento que veio a primeira agressão física. Tício, deu um soco e vários tapas em Catarina. Agora, ela estava ferida na alma e no corpo.

No corpo, Catarina foi ferida várias vezes, mas em muitas delas, Tício, batia sem deixar marcas físicas. Um dia, após uma comemoração, Tício quis ter relações sexuais com Catarina, que negou. Ele então, a forçou a ter relações, cometendo violência sexual.

No dia em que foi vítima de violência sexual, Catarina, em um momento de reflexão diz: queria que ele tivesse me batido mais, para deixar muitas marcas físicas, só assim acreditariam em mim.

No dia seguinte a violência sexual, Tício, procurou Catarina dizendo estar arrependido, que iria mudar e não iria mais agredi-la, que tudo seria diferente. Ela, mais uma vez, acreditou, e assim, seguia o ciclo da violência doméstica: momento da tensão, explosão, promessas de mudança, reconciliação, lua de mel.

Catarina, era a princesa que vivia com um príncipe encantado em um castelo, e aos olhos da sociedade vivia um conto de fadas. Ela foi isolada, sofreu violência psicológica, física e sexual, e em sua lógica ninguém acreditaria nela se não tivesse marcas de uma violência física.

Os primeiros sinais do que estava por vir foram ignorados por Catarina, que foram: o isolamento e a violência psicológica. Estes sinais não deixam marcas aparentes, mas doem na alma.

Catarina, conseguiu quebrar o ciclo da violência a que era submetida e por sorte não integrou as estatísticas do feminicídio, nem mesmo estampou a capa de jornais. Ela não precisaria ter passado pelo que passou se tivesse “ouvido” o primeiro soar do alerta.

A violência doméstica está presente em lares de todas as classes sociais, das mais abastadas até as mais carentes. Está presente em todos os níveis de escolaridade. Autores de violência doméstica vão desde pós doutores até analfabetos, assim como, as vítimas de tal violência.

Muitos têm vergonha e até mesmo preconceito de tratar sobre o tema, que infelizmente está inserido nos lares. Não podemos mais aceitar que mulheres sejam tratadas como objetos e sacos de pancada.

Todos, sem distinção, fomos paridos por uma mulher, um ser tido como frágil, mas capaz de suportar dores imensuráveis na hora do parto. O respeito exigido para com as mulheres é uma questão de solidariedade. A pergunta que fica é: e se fosse a sua mãe a vítima da violência doméstica, o que você faria?

Catarina não teve filhos com Tício, ainda não era mãe, mas era filha. A história deles é fictícia, mas ilustra de modo muito sutil a realidade enfrentada por muitas mulheres. Quantas Catarinas já foram vítimas de violência doméstica e quantas são mortas todos os anos. Que a erradicação da violência doméstica presente nos lares, seja uma medida real, e não utópica para as próximas gerações.

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